Hoje é sexta-feira, 1 de março de 2024.
"Trazer engenheiros de volta às páginas da Nature já deveria ter sido feito há muito tempo, principalmente para a saúde do nosso planeta e o bem-estar de todas as pessoas".
“Queremos que os engenheiros saibam que seus projetos serão considerados, sejam protótipos ou ainda em fase de implementação”, afirma o editorial da Nature do último dia 14 de fevereiro de 2024.
Interessante. Os editores da Nature sentem que os trabalhos de engenharia tem sido sub-representados na revista – algo que querem mudar.
De fato. Por um lado, falamos das causas das alterações climáticas, do carbono e dos ecossistemas, reenfatizando a ciência, a física e a química como pilares universais do nosso “Planeta A”, após 200 anos de forte crescimento populacional e expansão do consumo. Por outro lado, parece que o mundo está acelerando cadas vez mais numa nova revolução industrial.
Neste contexto, também são altamente relevantes os estudos que mostram como as descobertas e invenções podem ser aplicadas em ambientes do mundo real, inclusive através de testes e avaliações de produtos e processos em larga escala. Os esforços reais – e os destaques – exigem cada vez mais engenheiros.
Segundo o editorial, a Nature também observou que “o objetivo mundial para acabar com a pobreza e alcançar a sustentabilidade ambiental … não está indo bem”. Nature refere-se à maioria dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas e ao prazo de 2030.
“Trabalhos relacionados aos ODS ainda não são prioridade para muitos pesquisadores, especialmente os que vivem em países ricos, em comparação com seus colegas em países de renda baixa e média”, acrescenta a Nature.
Isto parece no mínimo estranho, se considerarmos outra perspectiva: os pedidos de patentes internacionais e as publicações científicas. Também recentemente, no último dia 16 de fevereiro, a Visual Capitalist explorou os 50 principais centros de ciência e tecnologia do mundo que lideram estas inovações, com base no Global Innovation Index 2023, do World Intellectual Property Organization (WIPO)
“Pela primeira vez, a China liderou a lista de países com maior número de clusters entre os 100 primeiros, com 24 no total. Seguem-se os Estados Unidos, com 21 clusters, depois a Alemanha com nove... São Paulo (Brasil); Bengaluru , Delhi, Chennai e Mumbai (Índia); Teerã (República Islâmica do Irã); Istambul e Ancara (Turquia); e Moscou (Federação Russa) são os únicos clusters de economias de renda média fora da China. De acordo com o Global Innovation Index, os EUA lideram os investimentos com pesquisa e desenvolvimento (P&D), seguidos pela China, Japão, Alemanha e República da Coreia".
Aqui está o artigo "Mapped:The World’s Top 50 Science and Technology Hubs" de Niccolo Conte e Bruno Venditti na Visual Capitalist.
E aqui nosso artigo mais recente sobre a WIPO "Inovações tecnológicas, metodologias de carbono e mudanças climáticas".
De volta à Nature, ao lançar este apelo a mais trabalhos de engenharia, este semanário internacional científico também busca reconectar-se com as suas raízes. A primeira edição, publicada em 4 de novembro de 1869, era sobre o Canal de Suez, um dos maiores projetos de engenharia do século XIX. Naquela época, traçava-se relação com outro projeto: “o Canal do Ganges, com 437 quilômetros de extensão, inaugurado 15 anos antes para ligar os rios Ganges e Yamuna, na Índia, reduzindo o risco de fome numa região onde as pessoas já tinham passado fome em épocas de seca".
Também naquela época “cientistas e engenheiros queriam ler sobre o trabalho uns dos outros na mesma revista”.
O editorial cita o recente Prêmio Rainha Elizabeth de Engenharia, equivalente ao prêmio Nobel, concedido a dois pesquisadores de engenharia Andrew Garrad e Henrik Stiesdal por suas contribuições no campo da tecnologia moderna de turbinas eólicas. A sua parceria de 40 anos na concepção, teste e melhoria de turbinas eólicas reuniu investigadores de outras áreas, como matemática, mecânica dos fluidos, eletrônica e ciência dos materiais. Com benefícios práticos já implementados em escala industrial em todo o mundo.
A Nature conclui: "a engenharia e a ciência são como dois navios que navegaram próximos um do outro, mas que em muitos aspectos se afastaram gradualmente. Não podemos deixar que isso continue. Ter engenheiros de volta às páginas da Nature já deveria ter sido feito há muito tempo, principalmente para a saúde do nosso planeta e o bem-estar de todas as pessoas".
Clique na imagem abaixo para ver este editorial da Nature, incluindo vários outros links interessantes.