Estas são notícias de Dubai.
Metrô, linhas e filas. E antes de começarmos.
O dia começou normalmente, planejando chegar ao local da COP com tempo suficiente (para participar da coletiva de imprensa da França 🇫🇷 às 9h). Mas, ao mesmo tempo que chegava um SMS do App da UNFCCC, o trem parou uma estação antes do destino final. A mensagem SMS indicava coincidentemente: evite chegar à COP em horário de pico (!). Tarde demais. Todos tiveram que sair do trem e esperar na plataforma pelo próximo, alguns minutos depois. Ao chegar à estação final, outra surpresa: uma longa fila em zigue-zague, até onde a vista alcança. Paciência. E calor. Em determinado ponto da fila, foi inclusive entregue uma latinha de água a cada um de nós. Dada a situação, uma ótima oportunidade para dar uma olhada ao redor e conversar. À distância, cumprimentamos o José Pugas, um dos principais especialistas em ESG, COP e questões climáticas do Rio de Janeiro, Brasil. E ao meu lado, conheci Ybrahim do Sudão, com quem conversei sobre inundações e recentes eventos climáticos extremos nos Emirados Árabes Unidos, Sudão e Brasil. Ele não era um participante como nós, mas um técnico de apoio, integrante da equipe de serviços de transmissão online da COP28 (bom, acho que ele merece prioridade na entrada, não concorda comigo?). Ele até me ajudou a verificar se aquela coletiva de imprensa na França já estava sendo transmitida online. “A reunião ainda não começou”. Ainda bem (e melhor ainda saber mais tarde que fora adiada para o fim do dia 😊). Finalmente passamos por todas as verificações de segurança e entramos - mais um dia - na Zona Azul.
PS. Ao terminar de escrever este post, outro alerta do aplicativo da UNFCCC no celular: “3 de dezembro será um dia agitado na COP28. Chegue cedo para evitar filas.”
O dia.
Como a COP é múltipla e diversa. Dê uma olhada nestes dois painéis:
Muita gente buscando ampliar o engajamento, perspectivas e ações bastante diversas.
O painel que assistimos e que mais gostamos hoje foi sobre “Synergies Unleashed: Bridging Article 6, VCM, and Exchange Dynamics for a Sustainable Future”. Organizado no IETA’s Business Hub, International Emissions Trading Association, moderado por Corinne Boone da ACX, com experts nos assuntos:
Andrew Cullen, da ACX Singapura enfatizou que a ACX deseja reduzir as barreiras de entrada nos mercados de carbono. “Facilitamos a transação de compra de projetos específicos.” padronizando operações intensas e due diligence relacionadas a créditos de carbono. Além disso, fornecer conectividade global a uma coisa naturalmente intangível: “O carbono é de natureza digital”.
Lisa DeMarco, da Resilient, Canadá, destacou “muitas questões complicadas”, incluindo questões de propriedade, transferência e conformidade. Além disso, clareza sobre a sua utilização final, incluindo o papel dos “intermediários”, como as exchanges. Integridade e o Código VCM, tópicos explicado na sequência, por Amy Merrill do ICVCM e C2ES Alemanha. Para ela, qualidade e integridade são pontos comuns entre compliance e mercados voluntários. O ponto de atenção estaria nos créditos de carbono jurisdicionais, basicamente porque nos últimos 2 anos os alguns mercados domésticos desenvolveram os seus próprios padrões.
Carlos de Mathias Martins Jr., da EQAO Brasil deu sequencia, comentando que a fungibilidade continua sendo um problema. Ele também manifestou preferência por créditos de carbono de natureza tecnológica, dos setores "hard to abate".
O debate esquentou e envolveu todos os participantes quando Carlos mencionou a incerteza do preço do carbono e os problemas com a atual proposta de lei para o mercado regulado de carbono brasileiro:
Amy destacou os direitos soberanos dos países, nos termos do artigo 6.º.
Lisa demonstrou preocupação com a tendência dos créditos de carbono brasileiros serem considerados títulos de valor mobiliário, em vez de uma commodity comercializável. E mencionou outras jurisdições onde o agronegócio é tratado de forma diferenciada em termos de créditos de carbono, como a Califórnia ou indiretamente através de fertilizantes. Também foi mencionado o trabalho do UNIDROIT rumo à consistência global da natureza jurídica dos créditos de carbono, esperado para o próximo ano. E quando questionada sobre o tratamento diferenciado dos offsets e dos créditos de carbono, em termos de NDCs, referiu-se à necessidade de transparência e reconciliação por parte de cada país.
O almoço acabou sendo tarde, extremamente difícil “to bite something”, e demorou mais de duas horas para alguns de nós.
Depois, a conferência de imprensa de Macron, o presidente francês.
“Le monde aura besoin de plus de nucléaire pendant la transition, ainsi que d’énergies renouvelables"
Aceleração do combustível nuclear, uma energia de baixo carbono. Inclusive apoiando países emergentes.
Na França, o carvão será eliminado mais cedo do que o esperado, até 2027.
Os instrumentos financeiros começarão a diferenciar (taxas) para projectos "amigos do clima".
Em seguida, mencionou os bilhões e blihões de euros que estão sendo disponibilizados aos países vulneráveis, parte dentro de Loss & Damage, parte extra.
E três destaques especiais finais:
Criar impulso com o presidente do Quénia, William Ruto, por seu protagonista em África, e com a presidência brasileira do G20, e propor uma reforma de Bretton Woods, uma reforma do sistema financeiro. “Plus inclusif. Beaucoup plus inclusif”.
Os países desenvolvidos não estão investindo suficientemente nas florestas, como solução natural de captura de carbono. “Faisons avec les forêts ce que nous faisons déjà avec l’énergie”.
A água também é importante. Haverá um Summit em 2025.
Durante o Q&A, fomos surpreendidos com uma relacionada ao Mercosul, Brasil. Mais tarde percebemos que a pergunta fora feita por Bianca Rothier, correspondente internacional da Globo. Macron disse que teve uma longa conversa com Lula - “nous avons des points de vue similaires” - e que visitará o Brasil em março. Sobre o acordo Mercosul – Europa, ele foi claro: “je suis contre” (Sou contra). Para Macron, é “um tipo de acordo antiquado”. Existem formas mais modernas, novos padrões a serem seguidos (?) e que o Brasil deveria ser recompensado por suas “florestas serem um tesouro”.
La fin.
Algum tempo depois, notamos essa manchete no Brasil.
O último compromisso do dia acabou sendo a Conferência de Imprensa da Presidência da COP28. Com três assuntos significativos:
Lançada Carta de Descarbonização do Petróleo e Gás para acelerar a ação climática. Ele “apela para que a indústria se alinhe em torno do net zero até 2050 ou antes, zere as emissões de metano, elimine a queima de "flares" até 2030 e continue trabalhando em direção às melhores práticas da indústria na redução de emissões”. As empresas signatárias representam mais de 40 por cento da produção global de petróleo, com as empresas petrolíferas nacionais representando mais de 60 por cento dos signatários. Veja a lista.
118 países concordaram em triplicar a capacidade instalada de produção de energia renovável para pelo menos 11.000 gigawatts e em duplicar a taxa média anual de eficiência energética, de 2 para 4% até 2030.
Mais de 120 países apoiam a Declaração sobre Clima e Saúde da COP28 nos Emirados Árabes Unidos, proporcionando um momento inovador para a saúde nas negociações sobre o clima.
Antes de encerrarmos o dia.
Gostaríamos também de compartilhar o link para uma postagem no LinkedIn de Johannes van de Ven, com um discurso de 4 páginas do Papa Francisco que foi lido em 2 de dezembro na COP28. Citamos “…sejamos sensíveis às esperanças dos jovens e aos sonhos das crianças! Temos uma grave responsabilidade: garantir que não lhes seja negado o seu futuro. …. O clima, descontrolado, clama-nos para acabarmos com esta ilusão de onipotência”.
Pessoas e paparazzi
Hoje quase fomos atropelados pelo primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida. É engraçado ver alguns de seus seguranças correndo na frente, pedindo gentilmente para abrir espaço para o resto da comitiva, vindo logo atrás... igualmente rápida. E também já mencionado, também vimos de perto Monsieur Macron. Foi a primeira conferência de imprensa “un homme” até agora, já que ele era o único no palco. Mas obviamente muito bem apoiado nos bastidores. Ao final, respondeu 4 perguntas: uma relacionada à energia nuclear (e seus sentimentos quanto à COP28), duas relacionadas à crise em Gaza e a última sobre o Mercosul/Brasil, conforme mencionado acima. Aliás, ele emendou sua resposta dizendo que tinha que sair e dar espaço para a coletiva de imprensa final: com o presidente brasileiro. No final, aquela coletiva de imprensa agendada sobre o Brasil foi cancelada, embora pudéssemos ver vários membros da comitiva de Lula conversando na saída do pavilhão principal.
Our key takeaways
Créditos de carbono, mantenham os olhos – e os ouvidos – bem abertos sobre a evolução de todos os aspectos, como metodologias, nível de qualidade, integridade, negociação, tendências de preços, etc.
“Énergie atomique” está de volta (ok, ok… a energia nuclear está de volta).
E o metano proveniente da queima (petróleo e gás) - como antecipamos ontem - entrou definitivamente no radar para eliminação progressiva. Lembre-se de que existem duas outras fontes relevantes de emissões de metano: ventilação e vazamento (carvão e fracking).